Minha tristeza não se precipita em tormenta e revolta, não troveja e relampeia.
Ela não se precipita.
Eu não choro.
Ainda que minha maior vontade em inúmeras vezes seja desabar em lagrimas, encher rios doces de aguas salgadas e pútridas do meu sofrimento e desespero, eu não choro.
Morram meus sonhos, e meus dias, meus amores... Eu não choro, mais.
Minha nuvem negra fica cada vez mais negra, e mais densa, e mais pesada.
E eu cada vez mais cética e apática.
Na minha cabeça uma bigorna, de palavras não ditas e não ouvidas.
Qual é a ânsia e o prazer em me machucar? Eu vos pergunto, torturadores meus...
Não, não sou mártir...
Sou apenas uma criança assustada que caiu do balanço, e defende-se como pode
Mas não chora.
Eu sou a outra face do medo, o outro lado da moeda, o lado negro.
Pintei o que havia de podre e imundo, e vendi como uma caixa de experiências que me trouxeram engrandecimento e amadurecimento.
Me tornei cinza, sem tonalidades.
Apenas aquela coisa chata e maçante, que chove e não molha, que não acredita e não duvida.
Me tornei o meio termo de tudo que odeio.
Sem posicionamento, sem garra, sem ferver nem gelar.
Aprendi a não tomar partido, nem o meu próprio.
E vos pergunto novamente torturadores, qual é a ânsia e o prazer em me mudar?
Não, não sou nenhuma coitada largada em qualquer guia onde chove frio... e nem preciso ser, pois aqui dentro neva.
Aqui dentro, névoa.
Parem de me bater, eu não vou reagir, eu não vou responder, eu não vou me importar.
O gelo interno é de uma camada densa na qual nem eu me encontro mais.
É anestésico e imune, é relaxante e desesperador.
É inalcançável.