setembro 13, 2016

Pertencimento, encontrar-se e um pouco mais.

Tive o prazer de viver e conhecer coisas lindas esse ano
Outras nem tanto
Que fizeram tanta parte de quem eu sou, que hoje vejo até certa beleza nisso
Mas o mais importante é que aprendi a olhar com maior profundidade para o próximo
Nossa batalha diária não é tão única quando a gente deixa de olhar pra si e repara um pouco mais no mundo à nossa volta
Eu não sou o centro do universo
E nem você
E ta tudo bem!
Nossas rotas podem se encontrar vez ou outra

Encontrar identificação no outro e empatia, tão raro e tão preciso e precioso
Estamos carentes
Carentes de sermos humanos
De sermos nós mesmos

Conheci pessoas tão incríveis e singulares
Cada uma com seu pequeno universo particular, tão bonito e profundo
Com as quais eu pude ser eu, de todas as formas e falhas que isso possa vir a ser

Todas tão especiais, tão bonitas que eu nem sei

O mundo tá cheio delas, acho que a gente não olha direito
A gente não se permite muito ser tocado
Quem dirá tocar o outro

É mais fácil olhar a imagem
E partir do principio dela

Julgar um livro pela capa
Quantas e quantas vezes a gente não fez isso ?
Quantas vezes não olhamos para o outro cheios de preconceitos e limites
Quantas vezes não fizemos isso com nós mesmos?

Que mania tola essa nossa de querer nos encaixar em algo que não nos pertence!
Por que aparar todas as nossas arestas e nos colocar em um cubo perfeito,
Quando o que nos difere e nos deixa tão bonitos é o que a gente tem de diferente?

Tempo é relativo, e encontrar lugares e pessoas onde a gente sente que pertence é tão mágico quanto cada uma dessas pessoas que conheci

E não importa se elas vão embora amanhã, ou se ela ficarão para sempre
Importa o quanto elas já me deram e o quanto eu gostaria de poder retribuir

Importa o amor que a gente sente, às vezes em um pequeno momento
E outras vezes em todos, repetidamente, incessantemente e incansavelmente

Tantas pessoas admiráveis
E esse é o primeiro passo para o amor: admiração.

Obrigada por me pertencerem um pouquinho, e me deixar pertencer à vocês.
Me encontrar em vocês, é também me encontrar em mim.

setembro 08, 2016

O ATO DEPOIS DO ÚLTIMO: Sobre ver, enxergar e se deixar ser visto

É difícil de deixar ser visto

Entenda

Todos temos segredos que gostamos de manter assim
Sob sete chaves
Em um calabouço escuro
No átrio de nosso coração

Deixar ser visto, mesmo que sem querer
Nos torna vulneráveis
e vulnerabilidade da raiva

Vulnerabilidade é o primeiro passo para machucar-se
Pois baixam-se todas as armas
E abre-se o peito
Pronto para ser flechado

E após flechado o peito se fecha em um grande processo de cura
Mas a cicatriz permanece
E sangra

Embora um raio não caia duas vezes no mesmo lugar
A flecha cai.

ÚLTIMO ATO: Sobre desmoranamentos, sinceridade e querer

Se desfaz, tudo se desfaz

Entenda

Uma vez compreendido o que veio
E porque se sentir assim
Tudo se esvai em um sopro

Toda e qualquer reflexão a respeito se faz nula
Uma vez que não faz mais sentido

Cai por terra
O muro
A casa
O mundo

Esse é meu jeito de ser sincera e explicar aquilo que nem sei
Com letras, não números

Não há alma mais desnuda que a minha aqui e agora
Em todo e qualquer texto e verso
Essa sou eu em toda a minha complexidade

Cai por terra qualquer teoria
Desmorona
Apenas por querer que seja assim

E começo de novo
Mais uma vez

Sem ser predador ou presa
Caça ou caçador
Apenas eu
Nua e vestida de sol
Vestida de som
Vestida de mim


ATO 2: Sobre a prepotência, insegurança e medo

Auto afirmação é a melhor e mais comum arma contra a insegurança

Entenda

Sentir-se inseguro e não obstante
Não o bastante
Vira qualquer um de cabeça pra baixo

O medo
Palavra curta
Com grande significado

Traz consigo todas as falhas para nós tão importantes
Medo dá medo
Só pelo ato de tê-lo
Ou não tê-lo

Por isso a prepotência e arrogância
Aquela que protege e lembra a gente que talvez a gente seja um pouquinho bom
Por mais que a gente não acredite nisso

Eu não acredito

Seja tubarão ou sardinha
Cada um tem seu papel na cadeia alimentar
No fim
Somos todos comida de peixe

ATO 1: Sobre cadeia alimentar, rabo preso e caça

Vivo uma vida livre dentro de tudo que me é possível

Entenda

Não começo nada sem terminar o que veio antes
O que veio antes precisa tornar-se passado pra que eu possa começar qualquer outra coisa
Seja um livro
Um prato de comida
Ou um amor

Acontece que isso não é meu comportamento natural
Sempre tendi a deixar coisas sem fim
Palavras não ditas
Comida no prato

Costumava ter medo de finais
Natural de quem começa tanto, tantas vezes

Um dia da caça e outro do caçador

Descobri que no dia seguinte talvez não pudesse dizer nada
Talvez não tivesse comida
Talvez alguém não estivesse lá pra ouvir, ou não quisesse

Até o mais cruel dos predadores tem seu momento de fraqueza
É vulnerável
Suscetível à outra coisa
Encantar ou esconder é o que resta a presa

Mas muito embora eu tenha a tendência de colocar reticências em tudo
Eu nunca tive a necessidade de voltar pra nenhuma história
Ou ela continua, ou ela termina

Não me mantenho com o rabo preso na rede de nenhum pescador que esqueceu de puxar sua pesca
Sou peixe grande
Ou como diria meu querido pai
Tenho olhos de tubarão

E sabe como se pesca um tubarão?
Ou se quer muito
Ou passa a vida se alimentando de sardinha


setembro 05, 2016

Sempre chegam as manhãs

Sempre fui uma criatura notívaga
Pense
A noite tem seus mistérios e é quase mágica
E isso sempre me encantou

Embora depois, um pouco mais velha
Morfeu tenha me acariciado com algumas noites de sono
Ainda sinto falta da madrugada vez ou outra
Mas sempre chegam as manhãs

Sejam elas de segundas ou sextas
Ensolaradas ou mofadas e sem cor
A realidade sempre nos assola com um soco na cara

As manhãs sempre chegam
e com elas todos os problemas
E cada canto escuro e bonito
Se torna um aglomerado de formas sob a luz do dia

Por isso sempre preferi a noite
Pois nela, todo gato é pardo
Não há diferença ou rancor

Inimigos amam-se em segredo
Isso é a noite
Segredo e liberdade
Sem medo ou pudor

Mas manhãs sempre chegam
Trocam-se whiskys por cafés
Corpos nus por camisas
E mordidas por sorrisos amarelos

Sempre chegam as manhãs
E com elas, a realidade.

setembro 02, 2016

Sobre quebra-cabeças, queijo ralado, periferias e relacionamentos

Ainda hoje de manhã me disseram
"E não deixa de lembrar que amar-se é essencial, e não egoísmo"
(Sim, eu vou parafraseá-lo durante o texto inteiro)
Eu não entendi o porque do comentário
E como não sou mulher de dúvidas eu perguntei: O que isso quer dizer?
Entre a conversa sobre centros e periferias e o que era ou não era importante
A metáfora utilizada foi um quebra cabeças
Você ser a peça central e tudo que gira em torno de você é mutável e te completa.
Logo eu cheia de razão disse "Completa não, complementa"

A questão é que pra você ser uma peça você já está moldado, e o que te encaixa também, eu não gosto dessa ideia.

O mais engraçado é que meu discurso para duas ou mais pessoas durante essa semana foi
PARE de se buscar nos outros, você não precisa se buscar em ninguém.
Se possua e seja dono de si
Dono do seu saber, sabor e o que mais for
E me doeu dizer isso, mas a gente não dá o que não tem

E então disse que eu acho que relações são como queijo ralado
A gente gosta, e algumas vezes prefere com
Mas a comida não fica menos interessante porque não tem
É um complemento

Mas como dizia minha mãe: Barriga cheia, goiaba tem bicho.

Uma frase me estapeou a cara pela manhã, e eu realmente considerei desenvolver um pensamento, um texto, um verso ou qualquer coisa que o valha
Ainda assim eu a deixo aqui para reflexão ou memória póstuma
" No xadrez do amor, eu não sou a rainha, eu sou o rei"

Acontece que ser rei é correr o risco de tomar um xeque a cada jogada
Até o xeque-mate, o grand-finale.

Eu realmente acredito em amor da vida, e que por ai em algum lugar algum tonto talvez esteja pensando que um dia ele possa encontrar alguém que talvez se pareça comigo
Ou talvez ele esteja só tomando cerveja e nunca tenha pensado nisso
Ou talvez ele não tenha nascido ou morreu em um acidente de carro no ano passado
Ou talvez ele lembre de mim enquanto fuma o último cigarro do dia
Eu não sei

Mas gosto de acreditar que aí fora tem alguém pra ser meu queijo ralado

Essa é a complexidade de toda e qualquer relação, sendo ela romântica ou não
O mais bonito é você QUERER estar com alguém, porque aquilo te faz melhor
Ou te obriga a melhorar
Mas você não precisa melhorar, e não precisa de alguém pra isso

E a recíproca tem que ser verdadeira.

É sempre melhor dividir a caminhada e eu concordo
Mas antes de começar a dividi-la é importante saber que você pode caminhar sozinho
E caminhar sozinho é amar-se
E amar-se é também amar aquilo que te incomoda

Sua felicidade é de única e exclusiva responsabilidade tua
Ela tem que ser e precisa ser somente tua

Pelo simples fato de que você não tem o direito de jogar isso no colo do outro
Mesmo assim compartilha-la também é preciso

Não confunda, conhecer a sua responsabilidade para consigo com
" Vou erguer um muro aqui, e ninguém entra"
Felicidade também é sofrer e permitir ser machucado
Dor é bom


Eu gosto de ser uma coisa boa
Seja por um dia, um mês, um ano ou uma vida
Sendo dolorosa ou não
Eu gosto de tocar a vida de outra pessoa
De verdade

E sei que isso tem relevância, e sei o quanto isso pode significar
Mas isso não significa que eu seja responsável por como você se sente

Cada um dá o que tem no coração e cada um recebe com o coração que tem

Eu fico feliz de você participar da minha bagunça.
E sobre a dedicatória: até mais tarde.







setembro 01, 2016

O que falta em ti


Continua atribuindo-me
A outras e outros
Corpos ou não
Possivelmente eu estraguei meia dúzia de músicas pra você

Continua buscando minha voz
Muitas vezes não tão doce ou afinada
Em meio à multidão silenciosa do seu sentir

Procura meu olhar vagando pela janela
Você não o encontrará mais

De mim fica a lembrança
Em cada canto
Em cada choro e riso e desespero

Em cada disco que nunca tocou
Enquanto dançávamos na sala
Em cada domingo chuvoso que nunca existiu
Em cada detalhe esquecido  

Continua buscando
Você jamais me encontrará
Pois o que falta em ti não sou eu 
   
É você.     

Sobre mim.

Os dedos tamborilam no teclado
Nada sai
A cabeça está a mil, numa tormenta louca onde os pensamentos não se organizam
Tento organiza-los aqui
Escrever nada mais é do que olho do furação de quem sou
O lugar seguro onde tudo emudece e eu consigo me olhar
De dentro, para dentro.


Eu sou o que sou
E isso é muito mais complexo do que parece

Uma vez me disseram que eu parecia uma bomba-relógio nos últimos segundos
Prestes a estourar
Eu tinha dezessete anos, e dez anos depois, o relógio continua contando
Ninguém nunca soube qual fio cortar

A verdade é que não me escondo, mas não me mostro inteira
Não precisa
Profundidade assusta e poucas criaturas vivem lá
Só olhar o mar


Gosto da comparação com o mar
Prepotência minha ou não
Ninguém me conhece melhor que eu
E eu conheço minha imensidão

Não disse que ela é bonita, longe disso
Não estou me poetizando
Romanceando qualquer característica de mim
Como toda imensidão, existem lugares em mim onde a luz não toca



Eu sou uma completa bagunça

Só que eu não ligo
Eu não ligo de ser bagunçada
Eu sou o que sou
E isso é muito mais simples do que parece

Eu não vou fingir
Eu não vou mentir
Muito embora eu tenha uma incrível capacidade de persuasão
Ela só funciona quando eu acredito no que estou dizendo
Eu sou o que sou
E isso é muito mais do que querem que eu seja

Outra vez me disseram que eu vivia em "anos de cachorro"
Um pra oito
Faz sentido também
Não sei fazer as coisas pela metade
Não conheço o meio termo, a politicagem, a diplomacia
Eu sou o que sou
E isso é muito mais intenso do que parece

E por mais que eu viva recolhendo cacos e me remontando
Eu não escondo minhas marcas
Elas tem sua beleza também
Eu sou o que sou
E me tornar assim foi muito mais doloroso do que parece

Você pode conhecer meus hábitos
E minhas bebidas preferidas
Minhas crenças
E toda e qualquer outra coisa que me pertença
Eu sou o que sou
E o que eu faço não é minha essência