julho 30, 2013

Muralha da China

Tijolo por tijolo, bloco por bloco
Algumas espátulas de cimento ou qualquer outra coisa
Tijolo por tijolo, meia dúzia de palavras bonitas
e lágrimas aos rios
Bloco por bloco, algumas espátulas de desamor ou qualquer outra coisa
E pedaços espalhados
Tijolo, bloco, cimento e janela...
Janela?
Não, sem janela.
Tijolo, bloco,cimento, palavras bonitas, lágrimas aos rios, espátulas de desamor, ou qualquer outra coisa, e sem janelas.
Sem janelas.
Sem portas sem buracos, sem passagens, sem pontes elevadiças.
Sem pontes elevadiças.
Tijolo por tijolo, bloco por bloco
Algumas espátulas de cimento ou qualquer coisa
Mais tijolos, mais blocos
Mais cimento ou qualquer outra coisa
Qualquer outra coisa
Muralha
Sorriso por sorriso, abraço por abraço
Alguns beijos apaixonados ou com qualquer outra coisa
Bloco por bloco
ao chão
Tijolo por tijolo
ao chão
De nada me vale o cimento
Meia dúzia de palavras bonitas,
E lágrimas aos rios.
Desamor.
E pedaços espalhados.

Tijolo, por tijolo...





julho 27, 2013

Grilo da sorte

Estou impregnada.
Sentada na minha cadeira como de costume, tentando me curar da ressaca de dois dias atrás,completamente impregnada.
Curtida em alcool. com frio, e meu Deus, como faz frio quando a gente não tem nada que aqueça a alma.
E quando a mesma é fria, o corpo padece em tremores e soluços, mas não sente.
Ainda assim, estou impregnada. Estampada em cada letra e verso, em cada raiva incontralada de não ter, e querer demais.
Estou eu ali, e aqui, estou eu escrevendo por você ou por mim?
Estou completamente impregnada.
Cada letra que escrevo sinto como se fossem seus dedos tamborilando no teclado,enquanto eu fumo um cigarro esperando você terminar de se deleitar na memória de mim.
Eu gosto disso, gosto de ser motivo, falta de razão, gosto de no mundo, ser o mundo de alguém.
Não foi de proposito, nunca é de propósito, eu só sou assim, e me desculpe por isso.
Ainda que minhas desculpas te irritem mais, elas são necessárias, pois é a única coisa que posso fazer é isso, e eu preciso fazer alguma coisa.
Sou como um grilo da sorte, te trago toda a inspiração, e você me inspira também, como não?
Mas como você mesmo diz, sou um ser mitológico, greco-romano, de encantamentos e sereias, e bailarinas e marinheiros, Repito, mitológico.Um mito, mas sem lógica nenhuma.
Mágica não tem lógica, paixão também não.
Acontece que, o que nesse mundo é melhor inspiração pra um escritor do que o próprio enredo?
E é tão bom ler-se no enredo alheio, ver-se em história, em prosa nas mãos de outrém.
Por isso digo, eu sou a lâmpada da sua idéia, seu grilo da sorte, que aparece e vai embora.
E não faz sentido nenhum ter-me, porém.


julho 22, 2013

Nunca fui sua.

Fui barro e chão.
Fui planta e mineral.
Fui tudo e nada.
Fui lava.
Fui fogo e ferro.
Fui santa e incrédula.
Fui o demônio com fé.

Fui o primeiro raio de sol.
Fui o primeiro pingo de chuva.
O primeiro beijo, o primeiro passo, a primeira dança.
Fui o ultimo suspiro.
O ultimo trago, o ultimo amor, o ultimo olhar.
Fui primeiro e ultimo.
Fui o do meio
O da ponta, o terceiro.
Fui o banheiro.
O quarto, o quinto dos infernos, da sala vazia.
Fui minha mãe, fui minha filha.
Fui incômodo, fui cômodo 
Fui sala e cozinha.

Fui bule, fui chá e café
Fui biscoito, bolo e bolacha
Fui anjo, fui ternura, fui perdição.
Fui perdida e encontrada, fui achada e perdida.
Fui eu, fui você, fui mundo e fundo
Fui fosso, fui fossa, fui poça de alegria
Fui fonte e nascente
Fui poente
Fui cheiro e sabor
Fui toda amor, fui plena dor
Mas nunca fui sua. 



julho 20, 2013

Loucura em doses homeopáticas

Sou maluca.
Simples assim.
Não  tem mistério nenhum, nem definição, nem merda nenhuma que possam usar para me rotular diferente.
Maluca, tan-tan, lelé da cuca, muy loco del coco, como quiserem.
Conhecem gente louca? Que baba, e balança as mãos loucamente e vocaliza qualquer vogal misturada com um M no meio?
Pois bem, estou quase lá. Eu disse quase.
Tenho doses homeopáticas de loucura distribuídas em surtos psicoticos/neuroticos/autodestrutivos.
É quase como um porre de loucura, eu tomo todas da minha maluquês, fico muito louca, e no dia seguinte tenho a ressaca. E que ressaca.
É porque loucura boa mesmo, daquelas fortes, são aquelas com flashes de sanidade.
De nada me vale ser maluca e não saber, não é mesmo?
Tenho que sentir a culpa dos meus atos, e ficar me perguntando o porque de ser assim e aquela coisa toda.
Aquele dramalhão de sempre, que é a linha que minha vida segue.
Porque além de louca eu sou dramática.
E como eu sou dramática! Essa tal de Gloria Perez ia chorar de emoção com a obra prima da minha vida.
Não que eu seja dramática por opção, a vida quis assim, e quem sou eu pra desrespeitar a vontade de uma força maior?
Eu sou só eu, assim, pele e osso, e um pouquinho de carne e alma, aqui e ali.
Tudo tão misturado que não sei dizer o que é pecado e o que é santo.
Pobre da minha alma que atura meu corpo, pobre do meu corpo que aguenta o peso da minha alma.
E assim a vida segue, dizem que todo maluco tem algo de genial, espero que eu descubra minha genialidade antes de babar e balançar os braços, pra poder justificar a minha enorme loucura esporádica.
E a minha loucura mais maluca, minha vontade mais louca era de ter alguém tão louco quanto eu, e o melhor, louco por mim.
Teimosia minha.
Todo louco é meio teimoso, todo teimoso é meio dramático, e eu sou de todos eles, mais do que deveria.


julho 19, 2013

Centauro

As doses de whisky desciam doces e quentes pela minha garganta.
Era meu predileto, Jameson.
Completamente fora do comum encontra-lo em qualquer lugar que não fosse em uma garrafa em casa.
Clube do whisky, pensei.
Estava eu em um Pub, meio rock n' roll, mas sem rock n' roll nenhum.
As musicas eram melosas, e o whisky descia quente pela minha garganta, havia uma cabine telefônica inglesa, e um telão com futebol, uma escadaria que crescia a cada dose que eu tomava.
Whisky quente e aquele calor foi aquecendo minha garganta, meu toráx e todos os órgão envolvidos nessa região.
Eu tinha dado um basta naquela história. Aquele meu " homem da máscara de ferro" ja tinha tomado de mim todas as doses que eu tinha a oferecer, minha garrafa estava vazia,meu estômago e meu copo também.
Mais uma dose, cada uma vinham duas, cada duas vinham quatro, musica melosa, e uma mensagem.
A mensagem não foi minha, mas foi pra mim.
Teria o cavaleiro caído do cavalo? Não sei, vamos averiguar.
Copo cheio, estômago vazio, e mais mensagens.
Coração se aquecendo, meu Deus seria o whisky ou o que?
Meia dose, uma dose, uma garrafa inteira de mim se enchendo como um refil magico de esperança.
Eu ja não estava em mim, será que ele teria caído em si?
Disse... desmanchei-me em palavras doces, sussurros em letras, carinhos em curvas, o que eu teria a perder?
Absolutamente nada, eu ja tinha feito tudo, uma decisão minha feita por mim, e para mim.
Mas era tão dificil resistir aquele carinho disfarçado de eu não me importo, aquela saudade disfarçada de não preciso de ninguém.
Ou será que eu quis acreditar que fosse assim, sentir sem sentimento, era tudo que me podia ser oferecido?
Mais doses, menos garrafa, e eu já transbordava em amor, um amor que nem mesmo eu sabia que sentia, e que com certeza me traria dores de cabeça no dia seguinte.
Fecha o Pub, adeus whisky, ola coração.
Me perco nas batidas latinas da musica no carro, na tontura, de tantas idéias mirabolantes que me passam pela cabeça, que de oca nunca teve nada.
Cheguei a me animar com a idéia de talvez sentir algo outra vez... já faz tanto tempo.
Tantos galanteios e flores morrendo em vasos, em vão. Nada daquilo me fazia sentir.
Será que o cavaleiro havia caído do cavalo?
 Pois então que vem o dia seguinte, e o sono, e a preocupação, e a dor de cabeça e no fígado que, convenhamos, ja não anda dos melhores.
O alcool que eu ingiro me cura as dores da alma mas adoece todo o resto da carne. Paciência.
A carne é finita e a alma eterna, se algo tem que chegar em bom estado em algum lugar é o espirito, pois que assim seja. Continuemos...
Dia seguinte, e todas as dores devidamente descritas, eis que surge uma questão, depois de tudo que foi dito, por quê?
E como nunca fui mulher de dúvidas, muito pelo contrário, tenho certeza até quando não sei, resolvi questionar meu reluzente cavaleiro, mas era tarde demais.
Sua armadura ja estava posta, sua espada empunhada para cortar meu coração, que ainda estava aquecido, ao meio.
Será que ele caiu do cavalo?
Evidente que não, suas patas estão grudadas à sua cintura como um centauro.
A única diferença é que dessa vez, após o corte, meu coração ao meio, não sangrou.

julho 18, 2013

único raio de sol.

Vi um raio de sol despontar no horizonte
por detrás daquele céu turbulento e cheio de mágoas, de um cinza massante, um raio de sol brigava pelo seu lugar.
Furava uma nuvem ou outra que passava, e se aproveitava dos breves intervalos para forçar-se ainda mais por entre aquela massa espessa de pesar.
E como era pesado o pesar.
Por vezes pesava no céu e se precipitava em lágrimas que molhavam o chão, por outras se revoltava em trovões e raios que cortavam minha alma. Em uma revolta por não curar-se de si.
Quem disse que depois da tempestade vinha a bonança não conhecia o meu infinito universo, tão pouco poderia medi-lo ou prevê-lo com unidades meteorológicas ou aparelhos tecnológicos. Nem mesmo eu poderia faze-lo.
A garoa fina era inisistente e gélida, e tomava conta de mim.
Mansa, chove, e chove, calada,, doída, fria.
E persiste enquanto pode.
Maldito nome, maldita sina, maldita eu e nós e todo o resto, maldito frio.
Trovoadas ressonando sem a menor piedade por entre meu corpo, terremotos, maremotos, e todo o resto, me partindo em dois, em dez, em mil.
Maldito nós, maldito você e eu, maldita sina.
Um Universo caótico, desmoronando, se abrindo em valas e Canyons, calamitoso.
Cuspindo lava, chovendo frio.
Por que raios há de haver um raio de sol ali?

julho 17, 2013

Se fosse meu, eu lhe daria

Tamanho o pesar de vê-lo definhar, se fosse meu, eu juro que lhe daria.
Odeio vê-lo, repito ODEIO, vê-lo dessa forma.
É triste, mas não sou o tipo de mulher que se conquista com flores.
É triste mas não sou o tipo de mulher que se conquista, não mais.
Quem compara seu porão fundo e fétido com o meu, consideraria o seu um mar brando de rosas vermelhas.
Você não conhece a minha podridão, porque eu a disfarço, a maquio.Uma bela casca, porém grossa.
E é isso que eu faço de melhor.
Esconder vazio com floreios, colorir uma realidade insípida, que nem ao menos tem direito a tons de cinza.
É um bloco concreto, sem nuances, sem passagens. Uma penitenciária de segurança máxima, para uma única pessoa: Eu.
A única coisa que vem colorindo meus dias tão mais nublados quanto você os vê, têm sido aquele velho batom vermelho, quando me olho no espelho.
Que de vermelho é a unica coisa em meu ser. Meu sangue é lodo, parado em canos por ja não ser bombeado há meses, talvez anos.
Por isso eu lhe digo, com imenso pesar, que se fosse meu eu lhe daria, mas meu coração ja não me pertence.
E se você encontra-lo por ai, em qualquer antiquario, como reliquia, o traga de volta para eu poder limpa-lo e reforma-lo, e quem sabe assim, poder da-lo de presente a você, de aniversário.

julho 12, 2013

Ayuni (Cartas à um beduíno)



[...]
Não podia, não queria.

Abraçava-o com força, tentando transpor meu coração para seu peito, para que assim fosse capaz de sentir.
Na esperança de realmente tocá-lo de alguma forma,me engoli por inumeras vezes.
Eu queria ensiná-lo a amar, e acabei me ensinando.
Ele era inalcansável, intocável, tão meu e tão distante, tão perto e tão sozinho.
Seu coração há tanto fora substituido por quatro patas galopantes e um peito forte.
Não era a prova de balas, mas era a prova de amor.
E eu que por tanto tive meus olhos vagantes, perdidos no infinito.
E portantos e poréns, quiseram por vez, mais de uma vez, tudo aquilo que ele conquistou e não vê.
Não vê porque também tem os olhos vagantes, perdidos em um além, além de mim.
Me mantém aquecida e me faz sentir frio, como dia e noite no deserto.
Como respirar, me ter era um ato inato, mais forte que qualquer tempestade de areia.
Eu tinha que deixa-lo ir, eu tinha que me despedir.
Maktub eles diziam.
Mas eu não conseguia. Eu não podia.
Qua falta  me fariam seus trajes azuis, e sua sombra ao horizonte, às vezes vindo, por outras indo.
Seu cheiro de noz moscada me mantinha embriagada, e a lua sorria pra nós, como nossa confidente.
Tão certo quanto o sol que se põe, e se levanta no dia seguinte, ele voltaria.
E não havia água que saciaria minha sede.
Maktub, eles dizem.
Eu encontrei o meu ayuni.