agosto 28, 2013

Me cure de mim.

Abro aqui meu peito infertil.
Me cure de mim.
Me impregnei com ideias e ideais tão fortes, que já não consigo ser diferente.
Consegui duplicar e realocar um segundo cérebro pra dentro do peito, e meu coração deve estar por aí, empalhado em algum antiquario.
Virou reliquia.
Virou estigma, cicatriz daquilo que não há.
Me dê um final, daqueles dramáticos dignos de aplausos e choros desatinados por falta de mim.
Eu não choraria, pra que chorar?
Mas me cure de mim.
Sempre fui navegada por aquele orgãozinho pulsante e vermelhinho, que fazia um barulhão aqui dentro.
Hoje tudo é silêncio, e ninguém sabe o que faz falta.
Meu rim diz que falta água, meu estômago reclama da comida, o pulmão dos cigarros...
A verdade é que sobra espaço, sobra vazio.
Então por favor me cure de mim.
Eu não passo disso, um grande espaço vazio, envolto de decepçoes e expectativas, e mistérios e histórias.
E quantas histórias tristes nós temos pra contar?
Eu só tenho uma.
A minha.

agosto 24, 2013

Você NÃO tem esse direito

Tenho as pernas tortas e compridas, sempre as tive
Dedos longos, quadris largos e uma sina com cabelo.
Quase não tenho seios, mas isso nunca me incomodou.
Detesto minhas orelhas, e minhas costelas saltadas por conta da bronquite.
Não gosto dos meus pés, mas adoro minhas canelas de sabiá, e meu nariz.
Meus braços extremamente longos me incomodam um pouco, pois acabo desengonçada.
Mas adoro minhas costas, e meus ombros e meu pescoço.
Gosto das marcas do meu corpo, tanto das que foram como das que não foram de propósito.
Cicatrizes recentemente adquiridas por conta de um descuido, ou então as três pintas prediletas que tenho, duas no canto do olho, e uma no canto da boca, todas do lado direito do rosto.
Gosto das minhas tatuagens, todas elas são envoltas de significados, e lembro de cada fisgada enquanto a agulha rasgava minha pele.
A verdade é que me construí com extremo esmero, cada palavra, cada jargão, cada chatice, tão meus que nem sei como...
Então, me perdoa, você não tem esse direito.
Eu tenho direitos autorais sobre mim, e não, eu não sou um personagem seu.
Eu sou uma personagem minha, às vezes vilã, às vezes heroína, mas sempre muito minha, sempre muito eu.
Eu me empresto para seus contos, deixo usar-me de inspiração, mas não tente me tomar pra si.
Eu existo independente de você.
Não que você não tivesse capacidade, mas não foi você quem me criou.
Em contrapartida, eu tenho fé de que se eu não existisse, você me inventaria.

agosto 21, 2013

Vingança é um prato que se come fervendo

Nunca fui uma pessoa vingativa, de verdade
Sempre achei que a vida proporciona o que cada um merece, de acordo com o que merece, e quando merece...
Mas ahhh, vingança é um prato que se saboreia fervendo.
Não que seja de propósito e eu juro que nunca foi
Mas a vida por si só me proporcionou a oportunidade de dar o troco, na mesma moeda, ou em outra moeda qualquer
Como diz o ditado, a ocasião faz o ladrão, e nesse caso eu sou uma larápia de primeira linha.
Entendam, não que eu sinta vontade de me justificar ou algo do tipo, mas a minha filosofia de vida é extremamente simples, e é a seguinte: Eu faço o que eu quero.
Se eu não estou nessa vida pra suprir meus desejos e vontades e quebrar a cara ou acertar de vez em quando para o meu próprio aprendizado, estou aqui pra quê?
Pra servir os outros?
JAMAIS.
Não nasci pra servir ninguém, e ninguém nasceu pra servir a mim...
Não acredito em pirâmides ou cadeia alimentar.
Acontece que entre as oportunidades de fazer o que eu tenho vontade, minhas vontades coincidiram com um tempero doce de vingança, que só é boa mesmo quando queima lingua... igual brigadeiro de panela.
Não me julguem, não é necessário, eu sou ruim mesmo, nunca disse que era diferente.
Mas ruindade é uma coisa, manipulação é outra.
Minha maldade ainda é em um nível sincero, eu não armo esquemas mirabolantes seguidos de mentiras de pernas curtas e cabeludas.
Não.
Não saí de nenhuma novela onde forjo provas e afins, pra me dar bem...
Minhas vinganças simplesmente acontecem, como se a vida me desse o alvará para tal...
"Toma, é seu" é mais ou menos o que eu ouço toda vez que algo do genêro me ocorre... e de novo aquele gosto de brigadeiro queimando na boca.
Se a vida por si só me da a razão, eu não poderia estar tão errada.
E como é doce o gosto da vingança.



agosto 15, 2013

Sina

Eis que esta é minha sina
Nosso gosto musical é diferente
Nossos times de futebol não coincidem
Eu nunca gostei de rosa, aliás eu detesto rosa
Não suporto ter o cabelo passando dos ombros
E por você eu não os cortaria jamais
Você gosta de dançar
Eu gosto de me expressar
Eu não sou delicada, eu vivo descabelada
Eu não ligo pra nada
Eu gosto de cicatrizes
Pra você qualquer marca na pele é absurda
Você é cuidadosa
Eu desvairada
Eu detesto coisas de menininha, eu não gosto de frescurinha
Eu não suporto indecisão, falta de posição
Já você tem paciência, e quase é pacífica
Eu sou guerra, sou tempestade
Você, brisa leve, calmaria
Eis que esta é minha sina
Ser ovelha negra
Da minha família

agosto 12, 2013

Aprendi a ser completa

Cheguei em um ponto na vida em que nada mais me assusta
Nem ao menos a morte me intimida.
Não tenho mais medo
Não tenho nenhum medo
Nem de perdas ou ganhos
Também não me impressiono mais tão fácil
Passei a lidar com as coisas exatamente da forma com que elas são
Passageiras, volateis, solúveis
E digo solúveis porque toda e qualquer situação é facilmente diluida em um abraço confortável
Aprendi a diluir, ao invés de destilar, veneno e rancor
Sentir dor, sem sofrer
Chamem de conformismo, de inércia
Eu chamo de plenituide
Eu sou quem eu sou, sou quem me tornei
E hoje, depois de trancos e barrancos, e apunhaladas e decepções
Eu me basto.
Eu sei, é algo lindo, porém egocêntrico e egoísta, mas é a verdade
Eu me basto pra mim, eu me sou suficiente
E não tenho vergonha, de mim, ou da minha história, ou do que fiz. ou deixei de fazer
Pelo simples fato de ser meu
Em contrapartida, aprendi a ser intolerante
Inconsequente, pedante...
É tanta segurança que me tornei uma pessoa rude, grosseira
Mas por favor, não me intrerpretem mal, ou me interpretem, como quiserem
Eu só não ligo mais...
Diluí tanto, que todas as emoções tornaram-se água...
insipidas, inodoras, e sem cor...


agosto 07, 2013

A inventora de histórias

Sempre fui assim
Uma inventora de historias
Começo e termino histórias como quem começa e termina um copo d'água quando tem sede.
E como tenho sede de historias!
Que bela dança em ciranda fazem as letras em minha cabeça, em uma rima de ciranda sem fim nem começo, em bolas de sabão coloridas, um arco-íris tão meu.
Se faz roda, como um vicio, assim é escrever, um ciclo de heróis e fadas, centauros e medusas.
Acaba que a mocinha é o vilão, o vilão é só  alguém que se machucou no caminho, e no fundo era bonzinho.
Vai entender, as historias somente nascem de mim, nada mais sou do que uma parideira de contos.
E dizem que "Quem conta um conto aumenta um ponto", mas eu prefiro virgulas e reticências...
E de novo a história gira, o mundo gira, minha cabeça gira em idéias e aí vem mais uma história, e se na metade não tomar o rumo que eu quero eu começo de novo, e recomeço, e tudo de novo quantas vezes eu quiser.
Afinal, eu faço a história que eu quiser, e invento do meio o começo e de um começo o fim quantas vezes forem necessárias.
Afinal, sou uma inventora de historias, como não poderia ser responsável pela minha?